terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O navegante

Então ele se perdeu entre as estrelas. Decidiu, depois de muita dor, que o 'Topo do Mundo' não era pra ele. Ou ele não era pro 'Topo do Mundo', sabe-se lá? A mente dessas pessoas acostumadas aos ventos etéreos é muito estranha, e o esforço por entendê-las costuma ser em vão. Isso vale como ressalva, amigo leitor: nunca tente entender uma dessas. Vai irritar o dono dos pensamentos e se machucar no processo.

Daí ele içou as velas. Sabia que um tempo entre as estrelas - suas irmãs - seria não a resolução de seus problemas, mas uma chance de começar de novo a se deleitar com os prazeres comuns. Assobiou alguma canção de navegador, puxou seu maço de cigarros - estrategicamente colocado em seu bolso 'de espaço infinito', próximo ao coração - acendeu o que estava ao alcance dos dedos. Soprou a fumaça entre algumas notas abafadas, só pra dar o primeiro impulso às velas. E assim foi, glorioso e impenitente!!

E assim se faz. Enquanto os ventos não sopram, lá no espaço, entre as estrelas, ele sopra a fumaça do cigarro. Não faz mal. Ele só precisa da aventura, da conquista, do cigarro, de algumas músicas memorizadas, de sua tripulação (ele e as estrelas) e, claro, de seu barco. E, por enquanto, ele tem isso tudo. Deus o perdoe pelo que ele faria sem o que tem!

sábado, 11 de agosto de 2007

Uma noite sob a chuva (de estrelas).

Sento no topo do mundo. Passo a coçar minha barba, passear com os dedos entre as mechas do cabelo: "Por que não preciso dormir?", mas penso silenciosamente. Em silêncio, porque há muito tempo que eu aprendi que até os pensamentos podem ser vistos nos olhos de alguém, se a outra pessoa possuir a devida visão...

Olho para as estrelas. Minha alma é isolada do resto do mundo. Lembro das pessoas que dedicaram tempo precioso de suas vidas para tentar fazer com que eu me adeqüasse, e essa memória me faz sorrir. Volto a vislumbrar as estrelas, que brilham mais forte.”- Assim é melhor...” Sussurro.

Estico meus dedos até o bolso da calça, pego meu maço de Carlton vermelho, busco meu isqueiro. Páro e suspiro profundamente. Afinal, apenas a idéia de estar sozinho no topo do mundo me assombra e anima.

Páro e desisto momentaneamente.

”- Mas espera!” Chamo minha atenção e pego meu celular que estava no bolso também, ao lado do maço. ”- Que horas devem ser?” Murmuro dessa vez, nesse momento não me importa ser escutado, afinal, estou sozinho! Vejo a hora: são 3h 01 am!!! De repente, sou acometido por uma onda de letargia que me impulsiona para baixo, pra grama. Fora de meu controle, eu deito e me apóio em meu braço. ”- Está na minha hora!!” Comemoro como um menino que acaba de achar um real no bolso da calça.

Retorno... mas não sem antes abrir meus olhos e voltar a mirar os céus. Afinal, meus pensamentos merecem ser compartilhados, mesmo que com as estrelas. Sento novamente. Pego um cigarro com um certo tom de vitória. Acendo. Dou uma tragada lenta e profunda. Instantes depois, sinto a fumaça sair, metade pelas narinas, metade entre os lábios entreabertos em um suspiro.

”- Por que não falei?” Penso em tom baixo, creio que, dessa vez, queria que alguma estrela me ouvisse e instigasse o assunto.
Trago.
”- Será que um determinado sentimento precisa de um tempo exato e fixo para surgir, ou pelo menos para começar a surgir!?” (bato meu cigarro na grama e sigo) “- Mas eu não acredito nisso... então, será que tenho medo?!”

Páro. Levanto e olho ao meu redor. Vejo as estrelas que ela pintou, meus pensamentos, meu espírito... começo a caminhar pelos céus. Trago. A idéia de temer o certo me assusta...
As estrelas dizem: “- Medo... essa é boa... com a sua idade, vai ter medo de quê!?”
“- Mas tem idade pro medo?”, respondo. “- Oras, não sei! Talvez das mudanças...”
“- MAS QUE MUDANÇAS!??”, elas retrucam.

Elevo tanto o tom do meu pensamento, que acredito que, dessa vez, ele possa ter sido escutado por meus companheiros que vagam pela imensidão celeste.

As estrelas continuam: “- Você sabe o que sente então por que não diz?! Você sabe que é correspondido, então por que teme?! E o que teme?!”

”- Medo... ah, não sei explicar, tenho medo de [Paro. Expiro. Paro. Trago. Expiro. Trago] tenho medo de perdê-la [expiro, trago] pois sei que não aguentaria perdê-la... ela é a derradeira! [expiro com um aperto no peito] Somente a idéia de perder minha pequena, que faz meu coração pulsar, me faz ficar bobo. Não sei o que responder para mim. Muitas coisas passam na minha cabeça. Penso ser bobagem minha, penso que é um crescer que não devo temer...”
”- Mas admitir assim... sei lá...”
Trago. Penso. Expiro.
Olho o cigarro, a cinza acumulada na ponta cai sobre a grama... “- Droga!”
Resmungo não tão silenciosamente. Piso na cinza que caiu na grama. “- De que adianta sentir isso tudo e não dizer???”

Reflito mais sobre o mesmo. No fundo não há o que temer, porque tudo que vivo possui contornos de 'certo'. É simples e fácil por ser certo. Sorrio. Ponderando bem, não sei o que temo tanto... talvez muretas despercebidas que eu ainda não conhecia em mim. Pego meus pensamentos e os vejo refletidos no éter. Vejo as imagens de nós dois. Sorrio. Acabo de fumar pensando nela e no que sinto. Celebro-me com um sonoro murmurar: “- Vou revelar-me!!”


Dou o último trago. Suspiro profundamente e lamento comigo mesmo, porque sei que não vou falar...”- Afinal ontem eu tentei algumas vezes... e venho tentando dizer isso tudo a ela há alguns dias…”

Um desânimo esperançoso me completa:”- Mas continuarei a tentar, não?”Apago o cigarro. Levanto e vou caminhar pelo universo. Sorrio ao vislumbrar que esqueci minha razão fria e calculista em cima de uma muretinha há um tempo atrás. “- Ah, pois que fique pra trás… Pra onde vou não precisarei disso…”

Decido que amanhã eu lembrarei de voltar para o topo do mundo sem ela. Penso também que queria a outra metade de mim, que põe meu coração sempre a suspirar - perdoe-me Chico - aqui comigo. Esse pensamento me acalma, torna minha noite de caminhada aprazível. Sinto como se ela me abraçasse. E com [ou talvez devido a] esse pensamento meu olhos fecham.

Após algumas horas, finalmente desapareço.

Uma poesia. Olavo Bilac.



Ouvir Estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Primeiro, as definições.

Astrolábio: sm. Instrumento astronômico utilizado para medir as alturas dum astro acima do horizonte. (fonte: dicionário Aurélio). Inventado por Hiparco de Nicéia, era usado para determinar a posição dos astros no céu e foi por muito tempo utilizado como instrumento para a navegação marítima com base na determinação da posição das estrelas no céu. Mais tarde foi simplificado e substituído pelo sextante. O astrolábio moderno é um aperfeiçoamento de seu êmulo árabe: o autor de tal aprimoramento foi Abraão Zacuto, português de origem judaica (também conhecido pela alcunha Zacuto lusitano).


Paralaxe: (cs) sf. Ângulo sob o qual um observador, situado em uma determinada estrela, veria o raio da órbita da terrestre. (fonte: dicionário Aurélio). Em astronomia, a paralaxe estelar é utilizada para medir a distância das estrelas utilizando-se o movimento da Terra em sua órbita.
A palavra vem do Grego: παραλλαγή que significa alteração. É a alteração da posição angular de dois pontos estacionários relativos um ao outro como vistos por um observador em movimento. De forma simples, paralaxe é a alteração aparente de um objeto contra um fundo devido ao movimento do observador.



Ajudou? Não? Então pesquise. Não na internet. Procurem uns bons livros de astronomia.