sábado, 11 de agosto de 2007

Uma noite sob a chuva (de estrelas).

Sento no topo do mundo. Passo a coçar minha barba, passear com os dedos entre as mechas do cabelo: "Por que não preciso dormir?", mas penso silenciosamente. Em silêncio, porque há muito tempo que eu aprendi que até os pensamentos podem ser vistos nos olhos de alguém, se a outra pessoa possuir a devida visão...

Olho para as estrelas. Minha alma é isolada do resto do mundo. Lembro das pessoas que dedicaram tempo precioso de suas vidas para tentar fazer com que eu me adeqüasse, e essa memória me faz sorrir. Volto a vislumbrar as estrelas, que brilham mais forte.”- Assim é melhor...” Sussurro.

Estico meus dedos até o bolso da calça, pego meu maço de Carlton vermelho, busco meu isqueiro. Páro e suspiro profundamente. Afinal, apenas a idéia de estar sozinho no topo do mundo me assombra e anima.

Páro e desisto momentaneamente.

”- Mas espera!” Chamo minha atenção e pego meu celular que estava no bolso também, ao lado do maço. ”- Que horas devem ser?” Murmuro dessa vez, nesse momento não me importa ser escutado, afinal, estou sozinho! Vejo a hora: são 3h 01 am!!! De repente, sou acometido por uma onda de letargia que me impulsiona para baixo, pra grama. Fora de meu controle, eu deito e me apóio em meu braço. ”- Está na minha hora!!” Comemoro como um menino que acaba de achar um real no bolso da calça.

Retorno... mas não sem antes abrir meus olhos e voltar a mirar os céus. Afinal, meus pensamentos merecem ser compartilhados, mesmo que com as estrelas. Sento novamente. Pego um cigarro com um certo tom de vitória. Acendo. Dou uma tragada lenta e profunda. Instantes depois, sinto a fumaça sair, metade pelas narinas, metade entre os lábios entreabertos em um suspiro.

”- Por que não falei?” Penso em tom baixo, creio que, dessa vez, queria que alguma estrela me ouvisse e instigasse o assunto.
Trago.
”- Será que um determinado sentimento precisa de um tempo exato e fixo para surgir, ou pelo menos para começar a surgir!?” (bato meu cigarro na grama e sigo) “- Mas eu não acredito nisso... então, será que tenho medo?!”

Páro. Levanto e olho ao meu redor. Vejo as estrelas que ela pintou, meus pensamentos, meu espírito... começo a caminhar pelos céus. Trago. A idéia de temer o certo me assusta...
As estrelas dizem: “- Medo... essa é boa... com a sua idade, vai ter medo de quê!?”
“- Mas tem idade pro medo?”, respondo. “- Oras, não sei! Talvez das mudanças...”
“- MAS QUE MUDANÇAS!??”, elas retrucam.

Elevo tanto o tom do meu pensamento, que acredito que, dessa vez, ele possa ter sido escutado por meus companheiros que vagam pela imensidão celeste.

As estrelas continuam: “- Você sabe o que sente então por que não diz?! Você sabe que é correspondido, então por que teme?! E o que teme?!”

”- Medo... ah, não sei explicar, tenho medo de [Paro. Expiro. Paro. Trago. Expiro. Trago] tenho medo de perdê-la [expiro, trago] pois sei que não aguentaria perdê-la... ela é a derradeira! [expiro com um aperto no peito] Somente a idéia de perder minha pequena, que faz meu coração pulsar, me faz ficar bobo. Não sei o que responder para mim. Muitas coisas passam na minha cabeça. Penso ser bobagem minha, penso que é um crescer que não devo temer...”
”- Mas admitir assim... sei lá...”
Trago. Penso. Expiro.
Olho o cigarro, a cinza acumulada na ponta cai sobre a grama... “- Droga!”
Resmungo não tão silenciosamente. Piso na cinza que caiu na grama. “- De que adianta sentir isso tudo e não dizer???”

Reflito mais sobre o mesmo. No fundo não há o que temer, porque tudo que vivo possui contornos de 'certo'. É simples e fácil por ser certo. Sorrio. Ponderando bem, não sei o que temo tanto... talvez muretas despercebidas que eu ainda não conhecia em mim. Pego meus pensamentos e os vejo refletidos no éter. Vejo as imagens de nós dois. Sorrio. Acabo de fumar pensando nela e no que sinto. Celebro-me com um sonoro murmurar: “- Vou revelar-me!!”


Dou o último trago. Suspiro profundamente e lamento comigo mesmo, porque sei que não vou falar...”- Afinal ontem eu tentei algumas vezes... e venho tentando dizer isso tudo a ela há alguns dias…”

Um desânimo esperançoso me completa:”- Mas continuarei a tentar, não?”Apago o cigarro. Levanto e vou caminhar pelo universo. Sorrio ao vislumbrar que esqueci minha razão fria e calculista em cima de uma muretinha há um tempo atrás. “- Ah, pois que fique pra trás… Pra onde vou não precisarei disso…”

Decido que amanhã eu lembrarei de voltar para o topo do mundo sem ela. Penso também que queria a outra metade de mim, que põe meu coração sempre a suspirar - perdoe-me Chico - aqui comigo. Esse pensamento me acalma, torna minha noite de caminhada aprazível. Sinto como se ela me abraçasse. E com [ou talvez devido a] esse pensamento meu olhos fecham.

Após algumas horas, finalmente desapareço.

4 comentários:

Pritchan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pritchan disse...

Quem mais me faria chorar de alegria e saudades? Quem?! Não lembrava como era isso, talvez nunca tenha chorado assim... desse modo, pelo menos não! Claro, já chorei de alegria, mas não essa, não se compara, não há equivalentes... sei lá. De nada sei.
Apenas sei que no vão dessa ignorância latente, há uma completude que deve-se apenas a sua existência em minha vida!

Te adoro³³³³³³³³³³³³³³³³³³³³³³
MUITO, MEU AMOR!

Van disse...

Meu irmão é tão poético :D

Anônimo disse...

Que curioso... qd te conheci tive vontade de escrever algumas coisas e acabei salvando em um blog - que até então nem existia. Muito do que tem lá foi inspirado em vc. Não sei se um dia vc terá a oportunidade de ler. Acho piegas, mas de uma sinceridade q vc talvez não tenha percebido. Lamento q tenha sido tão fugaz.